Da Agência Brasil
Brasília - A ampliação dos direitos trabalhistas de empregados
domésticos, desde a promulgação da emenda à Constituição que concedeu à
categoria garantias iguais a dos demais trabalhadores, reforça a tendência de
fechamento de postos no setor, na avaliação de especialistas. Dados divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Mensal
de Emprego (PME), mostram que os trabalhadores domésticos foram o único
grupamento de atividades que tiveram queda nas vagas disponíveis de setembro do
ano passado a setembro deste ano.
Segundo a PME, houve redução de 164 mil postos de trabalho no serviço doméstico no período (queda de 10,6%). Para o conjunto das seis regiões metropolitanas brasileiras pesquisadas, considerando todas as categorias, a taxa de desemprego ficou em 5,4% em setembro deste ano, pouco maior do que a de agosto (5,3%) e a mesma de setembro de 2012.
Na avaliação do mestre em direito do trabalho e professor da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Ricardo Pereira, a forma como as alterações na contratação de empregados domésticos foram apresentadas pela mídia causou pânico entre os empregadores, que acabaram dispensando muitos funcionários.
"Verificamos um movimento de dispensa de empregados domésticos, em boa parte, porque a propaganda não foi positiva e acabou criando pânico. Muito do que se falou não era verdade, porque o impacto no orçamento das famílias não seria imediato. Na verdade, a única coisa que mudou, até agora, foi a limitação da jornada de trabalho em 44 horas semanais, devendo haver pagamento de horas extras em caso de extrapolação", disse. "Todos os outros direitos, como recolhimento obrigatório do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço], seguro-desemprego, indenização em demissões sem justa causa, salário-família e auxílio-creche, por exemplo, ainda dependem de regulamentação", acrescentou.
Para a presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Creuza Maria Oliveira, os dados do IBGE não surpreendem, já que a categoria esperava aumento nas demissões em razão das alterações na forma de contratação em empregados domésticos. Em sua opinião, a pesquisa reflete que as pessoas preferem abrir mão do serviço feito por esses trabalhadores a incluir os gastos com os novos direitos no orçamento familiar.
"Faz parte, não é novidade, na conquista dos direitos das gestantes também foi assim e agora não será diferente. As pessoas não querem cumprir a lei. Querem ter uma trabalhadora na sua casa, mas não querem gastar mais. Querem gastar com qualquer coisa, mas não com as trabalhadoras", lamentou, lembrando a situação degradante a que muitos integrantes da classe são submetidos até hoje. "[Muita gente não sabe] mas horas extras estão valendo. Muitos mantêm as trabalhadores morando no local de trabalho [e trabalhando além do limite de 44 horas semanais]. Parece que não estão levando a sério os direitos adquiridos. E aquelas pessoas que têm conhecimento, estão com medo, não querem pagar [os direitos] e não estão contratando", disse.
Queda no emprego doméstico pode estar relacionada a mais vagas em outros setores
Segundo a PME, houve redução de 164 mil postos de trabalho no serviço doméstico no período (queda de 10,6%). Para o conjunto das seis regiões metropolitanas brasileiras pesquisadas, considerando todas as categorias, a taxa de desemprego ficou em 5,4% em setembro deste ano, pouco maior do que a de agosto (5,3%) e a mesma de setembro de 2012.
Na avaliação do mestre em direito do trabalho e professor da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Ricardo Pereira, a forma como as alterações na contratação de empregados domésticos foram apresentadas pela mídia causou pânico entre os empregadores, que acabaram dispensando muitos funcionários.
"Verificamos um movimento de dispensa de empregados domésticos, em boa parte, porque a propaganda não foi positiva e acabou criando pânico. Muito do que se falou não era verdade, porque o impacto no orçamento das famílias não seria imediato. Na verdade, a única coisa que mudou, até agora, foi a limitação da jornada de trabalho em 44 horas semanais, devendo haver pagamento de horas extras em caso de extrapolação", disse. "Todos os outros direitos, como recolhimento obrigatório do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço], seguro-desemprego, indenização em demissões sem justa causa, salário-família e auxílio-creche, por exemplo, ainda dependem de regulamentação", acrescentou.
Para a presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Creuza Maria Oliveira, os dados do IBGE não surpreendem, já que a categoria esperava aumento nas demissões em razão das alterações na forma de contratação em empregados domésticos. Em sua opinião, a pesquisa reflete que as pessoas preferem abrir mão do serviço feito por esses trabalhadores a incluir os gastos com os novos direitos no orçamento familiar.
"Faz parte, não é novidade, na conquista dos direitos das gestantes também foi assim e agora não será diferente. As pessoas não querem cumprir a lei. Querem ter uma trabalhadora na sua casa, mas não querem gastar mais. Querem gastar com qualquer coisa, mas não com as trabalhadoras", lamentou, lembrando a situação degradante a que muitos integrantes da classe são submetidos até hoje. "[Muita gente não sabe] mas horas extras estão valendo. Muitos mantêm as trabalhadores morando no local de trabalho [e trabalhando além do limite de 44 horas semanais]. Parece que não estão levando a sério os direitos adquiridos. E aquelas pessoas que têm conhecimento, estão com medo, não querem pagar [os direitos] e não estão contratando", disse.
Queda no emprego doméstico pode estar relacionada a mais vagas em outros setores
Brasília - O fechamento de 164 mil postos de trabalho no serviço doméstico, entre os meses de setembro de 2012 e setembro deste ano, pode ser consequência da promulgação da emenda à Constituição que concedeu garantias trabalhistas idênticas às dos demais trabalhadores. Mas está muito mais relacionado a uma melhor estruturação do mercado de trabalho brasileiro, com mais ofertas de vagas em outras áreas e aumento da escolaridade da população. A opinião é da pesquisadora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Lúcia dos Santos Garcia. Para ela, os números da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são resultado de uma tendência que já vem sendo observada nos últimos anos, mesmo antes do aprofundamento das discussões sobre a ampliação dos direitos da categoria.
"Não podemos dizer que foi um soluço na série de dados para que se
possa remeter esse comportamento direta e exclusivamente à discussão e à
promulgação da PEC. É verdade que ela encarece o emprego doméstico, uma vez que
torna obrigatório o pagamento de direitos que antes eram subtraídos dessa
categoria. Mas é fato que isso vai se somar a uma tendência que já vinha sendo
observada, de fechamento de postos no setor", disse ela, que é responsável
pelo Sistema Pesquisa de Emprego Desemprego, do Dieese.
"Em 2003 tivemos uma enorme crise [no mercado de trabalho] e desde então foram estabelecidas várias melhorias, com mais oportunidades laborais, permitindo que esses trabalhadores conquistem outras ocupações, com melhores condições e menos estigmatizadas. Por isso, eles preferem, muitas vezes, migrar para vagas no comércio ou na indústria. Quando têm uma oportunidade, eles saem e mudam de área", acrescentou.
O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fernando Holanda também ressaltou a ampliação das oportunidades em outras áreas como fator preponderante para a diminuição dos postos de trabalho doméstico. Segundo ele, o aumento da escolaridade da população também contribui para a construção desse cenário. Com maior escolaridade, frisou, os jovens não querem mais trabalhar no serviço doméstico. Um reflexo, de acordo com Holanda, é que os trabalhadores que se mantêm na área são de faixas etárias mais elevadas. “Esse trabalho vai acabando gradativamente. Mas não vai ser da noite para o dia”, observou.
Em sua opinião, os setores de comércio e serviço absorvem mais trabalhadores domésticos porque são segmentos que não exigem uma qualificação muito elevada. “Um trabalhador doméstico pode facilmente atuar em um supermercado ou em outro posto similar”, destacou Holanda.
"Em 2003 tivemos uma enorme crise [no mercado de trabalho] e desde então foram estabelecidas várias melhorias, com mais oportunidades laborais, permitindo que esses trabalhadores conquistem outras ocupações, com melhores condições e menos estigmatizadas. Por isso, eles preferem, muitas vezes, migrar para vagas no comércio ou na indústria. Quando têm uma oportunidade, eles saem e mudam de área", acrescentou.
O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fernando Holanda também ressaltou a ampliação das oportunidades em outras áreas como fator preponderante para a diminuição dos postos de trabalho doméstico. Segundo ele, o aumento da escolaridade da população também contribui para a construção desse cenário. Com maior escolaridade, frisou, os jovens não querem mais trabalhar no serviço doméstico. Um reflexo, de acordo com Holanda, é que os trabalhadores que se mantêm na área são de faixas etárias mais elevadas. “Esse trabalho vai acabando gradativamente. Mas não vai ser da noite para o dia”, observou.
Em sua opinião, os setores de comércio e serviço absorvem mais trabalhadores domésticos porque são segmentos que não exigem uma qualificação muito elevada. “Um trabalhador doméstico pode facilmente atuar em um supermercado ou em outro posto similar”, destacou Holanda.
Foi o que ocorreu com a paraibana Vanda Rodrigues, 25 anos. Depois de
trabalhar como empregada doméstica no Rio de Janeiro e em Brasília, ela
resolveu retornar ao seu estado natal e atuar como vendedora. De casamento
marcado para o ano que vem, ela considera que a maior vantagem da mudança foi
ter conseguido reorganizar suas relações familiares e ter horário mais bem
definido.
"Trabalhando em loja eu volto todos os dias para casa, o que não acontecia quando eu trabalhava em casa de família, já que estava fora da minha cidade. Além disso, pude voltar a morar perto da minha família e ainda consegui arrumar um noivo. Também tem a questão da meta que preciso bater para aumentar meu salário, o que é um incentivo para trabalhar bem e vender bastante", destacou.
Apesar do movimento negativo em relação aos postos de trabalho no setor doméstico, Holanda disse que, em momentos de crise, quando são fechadas vagas em outros setores, ele volta a crescer. “Isso já vem acontecendo há um bom tempo. A ocupação do setor aumenta em momento de crise, quando há dificuldade de emprego. Mas assim que a economia volta a se recuperar o setor doméstico volta a cair", observou ele, que acredita que a PEC não tenha influenciado o resultado da PME, uma vez que não foi observado aumento da informalidade. De acordo com a pesquisa, o total de trabalhadores com carteira assinada, em setembro deste ano, ficou em 11,8 milhões, o mesmo de agosto, e 3,5% maior do que setembro do ano passado, ou seja, mais 399 mil postos de trabalho. "Ainda é cedo para detectar o impacto", concluiu.
"Trabalhando em loja eu volto todos os dias para casa, o que não acontecia quando eu trabalhava em casa de família, já que estava fora da minha cidade. Além disso, pude voltar a morar perto da minha família e ainda consegui arrumar um noivo. Também tem a questão da meta que preciso bater para aumentar meu salário, o que é um incentivo para trabalhar bem e vender bastante", destacou.
Apesar do movimento negativo em relação aos postos de trabalho no setor doméstico, Holanda disse que, em momentos de crise, quando são fechadas vagas em outros setores, ele volta a crescer. “Isso já vem acontecendo há um bom tempo. A ocupação do setor aumenta em momento de crise, quando há dificuldade de emprego. Mas assim que a economia volta a se recuperar o setor doméstico volta a cair", observou ele, que acredita que a PEC não tenha influenciado o resultado da PME, uma vez que não foi observado aumento da informalidade. De acordo com a pesquisa, o total de trabalhadores com carteira assinada, em setembro deste ano, ficou em 11,8 milhões, o mesmo de agosto, e 3,5% maior do que setembro do ano passado, ou seja, mais 399 mil postos de trabalho. "Ainda é cedo para detectar o impacto", concluiu.
3 comentários:
Quando surgiram os primeiros anúncios de que uma lei assim iria ser aprovada, eu comentei que iria causar desemprego ou mais informalidade ainda.
Se tivessem feito uma lei aos moldes da lei do Microempreendedor Individual, reduzindo a carga tributária, até poderia dar certo. Mas igualar uma pessoa física a uma pessoa jurídica foi um verdadeiro "tiro no pé".
Hélcio e Kvari, falei que iria fechar e já vejo que fechou através de muitas Amigas e conhecidos.
Com os primeiros Direitos já havia fechado bem, incluindo as diaristas 2 e 3 vezes por semana. Todo mundo ficou com medo devido às informações desencontradas pelo vínculo empregatício etc....
Uma diarista em Juiz de Fora, uma vez por semana, para um apartamento simples, 1 pessoa, sai a R$80,00/Dia. Sem INSS, só o trabalho, passagem e refeição.
E as que trabalhavam no meu prédio 2 vezes por semana, segundo a síndica,agora só querem 3 vezes, para terem seus direitos.
Eu faço tudo sozinha, pois tudo é muito prático e comida barata e rápida.
A taxa de desemprego crescerá, acredito. Aqui tem muita casa grande e gente rica. Por enquanto ficarão com uma e o jardineiro. Mas dispensarão uma. Muita gente tinha 2 a 3 empregadas.
Abraços,
Rachel Bruno
Kvari, esqueci de dizer que concordo com seu comentário.
No Brasil cria se Lei sobre Lei, sem avaliar seu impacto e até antes da implementação da outra por todos, ou seja, cobrar o cumprimento por todos da Lei anterior.
Continuará havendo o que sempre houve: a ilegalidade.
Alguns mais esclarecidos depois buscarão seus Direitos na Justiça e esta ficará mais ainda superlotada...
Abraços,
Rachel Bruno
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