Brasília – Postagens de conteúdo ofensivo ou preconceituoso em sites, blogs
e redes sociais podem gerar responsabilidade para os administradores
dessas plataformas. O alerta é do advogado Leonardo Ranna, especialista
em direito de internet. Segundo Ranna, há possibilidade de responder
civilmente pelos danos, e os autores e difusores do material podem ser
responsabilizados criminalmente.
Para Leonardo Ranna, no caso recente envolvendo o site de vendas MercadoLivre, onde foi postado um anúncio vendendo negros a R$ 1, pode haver responsabilização da plataforma.
“O argumento é que eles [administradores dos sites] lucram
com isso. Se eles não conseguem controlar previamente, para não ofender
ninguém, devem ser responsabilizados pelo dano do ponto de vista cível.
Tanto o Ministério Público pode vir a processar o MercadoLivre, por meio
de uma ação civil pública, quanto alguém que se sentiu ofendido, no
caso uma pessoa negra, pode buscar indenização”, disse o advogado.
Ranna ressaltou que, apesar de o Brasil não ter legislação
específica para crimes cibernéticos, as leis existentes são suficientes
para responsabilizar autores e sites nesses casos. Ele destaca que há várias decisões judiciais condenando sites e redes sociais e determinando indenização às partes ofendidas.
O anúncio do MercadoLivre repercutiu nas redes sociais no último
domingo (5) e, segundo informações da empresa, foi retirado do ar na
segunda-feira (6) após denúncias dos usuários do site.
A Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, vinculada à Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), pediu ao
MercadoLivre a identificação do autor da postagem e deve enviá-la ao
Ministério Público do Rio de Janeiro segunda-feira (13), pedindo
a apuração de responsabilidade de crime de racismo e discriminação
racial. Os dados cadastrais do autor também foram solicitados pela
Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) Polícia Civil do
Rio de Janeiro, que instaurou inquérito para apurar crime de incitação
ao racismo.
Sobre a possibilidade de ser responsabilizado pela postagem, o
MercadoLivre informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a
plataforma é monitorada diariamente pelos administradores e que
disponibiliza um botão de denúncia para os usuários informarem sobre
conteúdos inadequados, ofensivos ou preconceituosos.
Para a presidenta do Geledés - Instituto da Mulher Negra, Nilza
Iraci, não é suficiente deixar o trabalho de denúncia a cargo dos
internautas. “A responsabilidade fica para as pessoas que acessam. Até
alguém perceber e denunciar, leva tempo”, ressaltou Nilza.
Para ela, deve haver responsabilização das plataformas por conteúdos
racistas, homofóbicos ou sexistas.
“Embora [o MercadoLivre] seja um site
público, acho que deveria ter uma segurança. Temos feito um trabalho
sistemático de vigilância em relação a isso, mas não se vê muita
punição.”
A postagem no MercadoLivre deixou chocadas pessoas como a atendente
Priscila Kellen Pereira da Luz, de 19 anos. Para Priscila, o conteúdo
mostra que o racismo continua forte no país. “É ilusão achar que só
porque as pessoas convivem e não têm tanto atrito, o racismo acabou. O
ser humano é ignorante e não sabe olhar o outro como semelhante”,
afirmou Priscila.
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