Laje do Muriaé, a cidade que mais encolheu no estado do Rio
Vinícius LisboaO Globo – 14/05/2011
RIO - Casas, currais e até escolas abandonadas na localidade de Serra, em Laje do Muriaé, no Noroeste do estado, evidenciam o que o Censo 2010 constatou: a população da cidade foi a que mais encolheu no estado desde 2000 - queda provocada principalmente pelo êxodo das áreas rurais. Laje do Muriaé tinha 7.487 moradores no ano passado, número 5,35% menor do que em 2000. No período, a população rural caiu 19%.
O processo de esvaziamento do campo, porém, é mais antigo. As 1.850 pessoas que residiam em domicílios rurais em 2010 correspondem a cerca de 51% dos 3.660 que moravam nesses mesmos locais em 1991, segundo o primeiro Censo realizado pelo IBGE. As causas do êxodo que a cidade vem sofrendo estão na ponta da língua dos produtores rurais:
- Nós temos estradas em péssimas condições. Quando chove, a gente chega a esperar até quatro dias de sol para poder sair. Produzo leite e já cheguei a perder um tanque com 2.500 litros por causa disso - conta o engenheiro agrônomo Lino Barbosa de Castro, de 80 anos, produtor no município desde 1953.
Adilson Novaes, o maior piscicultor da região, vizinho de seu Lino, vai fechar uma de suas maiores pisciculturas, que tinha 33 tanques e rendia R$ 10 mil por mês. Hoje, sem mão de obra e com apenas cinco tanques em funcionamento, o negócio dá R$ 2 mil de prejuízo mensal.
- Onde antes eu tinha seis funcionários, hoje só tenho um, que também quer ir embora. Não consigo mão de obra porque todo mundo quer ir para a cidade ou para outros municípios.
A Secretaria estadual de Agricultura tem desde 2009 o programa Estradas da Produção para a recuperação das estradas vicinais, que ligam as propriedades rurais às principais vias dos municípios. A coordenadora do programa, Stella Romanos, conta que a tragédia causada pelas chuvas na Região Serrana atrasou as atividades neste ano, pois todas as equipes tiveram que ser deslocadas para as cidades atingidas. Na semana que vem, deve começar o trabalho em Laje do Muriaé.
Na estrada em que Adilson e Lino moram, os buracos só não são maiores, segundo os moradores, porque os próprios produtores pagam máquinas para fazer a manutenção. No local, duas escolas abandonadas e dezenas de casas sem moradores comprovam a dificuldade do piscicultor em conseguir mão de obra. Os que vão para a parte urbana de Laje do Muriaé, porém, não encontram muitas oportunidades. Marlene Pinto, cujos quatro filhos se mudaram da cidade, resume a situação:
- Aqui, ou você consegue um emprego na prefeitura, ou abre seu próprio negócio, ou vai embora.
Marlene conta que a primeira filha saiu de casa com 15 anos para trabalhar em Itaperuna, o maior município vizinho.
- Eu não tinha dinheiro para ir lá, e ela muitas vezes não tinha o que comer. Eu fazia uma marmita, e dava para o motorista de ônibus levar, mas nem sempre eles se encontravam.
As famílias que viram seus filhos deixarem a cidade ilustram a mais expressiva redução populacional por faixa etária: a população até 19 anos caiu 19,5% nos últimos dez anos. Entre os jovens de 20 a 29 anos, a queda chegou a 10,1%, segundo o Censo. Na outra ponta da pirâmide etária, a população de 50 a 64 anos subiu 24,1%. E os maiores de 65 anos, 13,5%.
O prefeito da cidade, José Eliezer Tostes Pinto nega que a população tenha diminuído. Para ele, os recenseadores consideraram abandonadas casas cujos moradores não estavam na hora da visita:
- Não há 600 casas abandonadas nem 200 de ocupação ocasional. Se considerarmos que cada uma dessas casas tem ao menos um morador, são 800 a mais, o que significa que a população cresceu, não caiu. Dá para ver que a cidade é pujante, que só vem crescendo.
(Lamentavelmente o prefeito José Eliezer coloca a culpa do encolhimento populacional de Laje do Muriaé nos recenseadores, ao invés de mostrar o que tem feito para reverter tal situação . A reportagem do O Globo confirma o que o Censo IBGE já havia detectado).
O processo de esvaziamento do campo, porém, é mais antigo. As 1.850 pessoas que residiam em domicílios rurais em 2010 correspondem a cerca de 51% dos 3.660 que moravam nesses mesmos locais em 1991, segundo o primeiro Censo realizado pelo IBGE. As causas do êxodo que a cidade vem sofrendo estão na ponta da língua dos produtores rurais:
- Nós temos estradas em péssimas condições. Quando chove, a gente chega a esperar até quatro dias de sol para poder sair. Produzo leite e já cheguei a perder um tanque com 2.500 litros por causa disso - conta o engenheiro agrônomo Lino Barbosa de Castro, de 80 anos, produtor no município desde 1953.
Adilson Novaes, o maior piscicultor da região, vizinho de seu Lino, vai fechar uma de suas maiores pisciculturas, que tinha 33 tanques e rendia R$ 10 mil por mês. Hoje, sem mão de obra e com apenas cinco tanques em funcionamento, o negócio dá R$ 2 mil de prejuízo mensal.
- Onde antes eu tinha seis funcionários, hoje só tenho um, que também quer ir embora. Não consigo mão de obra porque todo mundo quer ir para a cidade ou para outros municípios.
A Secretaria estadual de Agricultura tem desde 2009 o programa Estradas da Produção para a recuperação das estradas vicinais, que ligam as propriedades rurais às principais vias dos municípios. A coordenadora do programa, Stella Romanos, conta que a tragédia causada pelas chuvas na Região Serrana atrasou as atividades neste ano, pois todas as equipes tiveram que ser deslocadas para as cidades atingidas. Na semana que vem, deve começar o trabalho em Laje do Muriaé.
Na estrada em que Adilson e Lino moram, os buracos só não são maiores, segundo os moradores, porque os próprios produtores pagam máquinas para fazer a manutenção. No local, duas escolas abandonadas e dezenas de casas sem moradores comprovam a dificuldade do piscicultor em conseguir mão de obra. Os que vão para a parte urbana de Laje do Muriaé, porém, não encontram muitas oportunidades. Marlene Pinto, cujos quatro filhos se mudaram da cidade, resume a situação:
- Aqui, ou você consegue um emprego na prefeitura, ou abre seu próprio negócio, ou vai embora.
Marlene conta que a primeira filha saiu de casa com 15 anos para trabalhar em Itaperuna, o maior município vizinho.
- Eu não tinha dinheiro para ir lá, e ela muitas vezes não tinha o que comer. Eu fazia uma marmita, e dava para o motorista de ônibus levar, mas nem sempre eles se encontravam.
As famílias que viram seus filhos deixarem a cidade ilustram a mais expressiva redução populacional por faixa etária: a população até 19 anos caiu 19,5% nos últimos dez anos. Entre os jovens de 20 a 29 anos, a queda chegou a 10,1%, segundo o Censo. Na outra ponta da pirâmide etária, a população de 50 a 64 anos subiu 24,1%. E os maiores de 65 anos, 13,5%.
O prefeito da cidade, José Eliezer Tostes Pinto nega que a população tenha diminuído. Para ele, os recenseadores consideraram abandonadas casas cujos moradores não estavam na hora da visita:
- Não há 600 casas abandonadas nem 200 de ocupação ocasional. Se considerarmos que cada uma dessas casas tem ao menos um morador, são 800 a mais, o que significa que a população cresceu, não caiu. Dá para ver que a cidade é pujante, que só vem crescendo.
(Lamentavelmente o prefeito José Eliezer coloca a culpa do encolhimento populacional de Laje do Muriaé nos recenseadores, ao invés de mostrar o que tem feito para reverter tal situação . A reportagem do O Globo confirma o que o Censo IBGE já havia detectado).
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