Região serrana perde escolas e postos de saúde
Uma semana depois da tragédia causada pelas chuvas na região serrana do Rio, que deixou 754 mortos, segundo o último informe da Defesa Civil, as autoridades das áreas de saúde e educação concentram seus esforços no levantamento dos prejuízos para, assim, dar os primeiros passos para reestruturar e normalizar os serviços - o que inclui construir postos de saúde e escolas, repensar o modelo de atendimento à população, remanejar pacientes e estudantes e reivindicar mais recursos dos governos estadual e federal. Na área habitacional, a medida imediata do poder público é a liberação de recursos para desabrigados por meio do programa aluguel social.
As prefeituras de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo focaram as ações iniciais de todas as secretarias na busca, salvamento e cuidado aos sobreviventes. "A primeira medida foi criar um comitê emergencial com participação de todas as áreas do governo", conta Jamila Calil Salim Ribeiro, secretária municipal de Saúde de Nova Friburgo, cidade mais prejudicada na região, com 364 mortes registradas. "Muita coisa foi feita no improviso para garantir o atendimento de urgência, agora é limpar e contabilizar as perdas para preparar a reconstrução."
Jamila se refere aos atendimentos médicos, que foram transferidos para a portaria e capela do hospital municipal Raul Sertã, o maior da cidade. Mesmo afetada por uma enchente que inviabilizou os setores de emergência, banco de sangue, farmácia e laboratório, a unidade foi a única a receber as vítimas do desastre em Nova Friburgo, pois os três hospitais privados foram interditados. Igrejas e escolas que se mantiveram em pé serviram de pronto socorro nos distritos mais afastados, onde pelo menos três postos de saúde foram completamente destruídos.
"Sabemos até agora que precisaremos de recursos para remontar laboratórios, comprar equipamentos caros, como um novo raio-x e reveladores, e fazer muitas obras. Mas não dá para fazer nada sem concluir o levantamento dos danos, não posso pedir verbas sem projetos, afinal não posso construir unidades nos mesmos locais", afirma Jamila.
Médicos e oficiais da Marinha e do Corpo de Bombeiros, que levantaram dois hospitais de campanha em Nova Friburgo, informaram que a estrutura permanecerá em operação por mais um mês. Equipes do Ministério da Saúde presentes nas cidades atingidas alertam para o aumento da incidência de doenças intestinais, infecções, cardiopatias e problemas causados pelo contato com a urina de animais no decorrer de todo o ano. "Passados os atendimentos de urgência, a grande tarefa é identificar os pacientes crônicos e mantê-los medicados e transferir os casos mais graves para a capital do Estado", complementa Jamila.
Na educação, a situação também é crítica em Nova Friburgo. Pelo menos 40 das 134 escolas do município foram destruídas pelas enchentes e pelos deslizamentos. O início do ano letivo dos 20 mil alunos, previsto para 7 de fevereiro, foi cancelado e não há uma nova data da volta às aulas. O prejuízo parcial é de R$ 16 milhões, nas primeiras contas do secretário municipal de Educação, Marcelo Verly.
Ele destaca que um "balanço global" sobre as condições da rede municipal de ensino será apresentado na segunda-feira, depois de reunião com os 134 diretores de escola de Nova Friburgo. Apesar de não ter respostas imediatas para os problemas, Verly conta que, para "não embolar demais" o calendário de aulas, as primeiras ações dão conta do remanejamento de alunos das escolas afetadas para unidades em condições de funcionar.
A solução de médio e longo prazo, que vai depender de apoio financeiro do Ministério da Educação (MEC), é o encolhimento da rede, com a construção de colégios maiores, com capacidade para receber mais alunos e oferecer infraestrutura mais ampla para atividades extracurriculares. A ideia é baseada nos antigos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e adotado na rede fluminense na gestão Leonel Brizola, nos anos 1980.
"Temos muitas escolas com 20, 25 alunos. Na comunidade Ribeirão das Voltas, por exemplo, temos uma unidade só com três alunos. Vamos repensar o sistema. Em vez de manter 134 escolas poderemos concentrar tudo em 20, 30 unidades como os Cieps", afirma Verli. "A visão, na verdade, é transformar a crise em oportunidade para resolver problemas em definitivo, não só os que presenciamos agora."
Em Teresópolis e Petrópolis não será necessário adiar o início das aulas, mas muito alunos serão remanejados e as prefeituras vão intensificar o serviço de transporte escolar, principalmente nas regiões mais distantes. As autoridades ainda levantam os estragos. "Das nossas 183 escolas, apenas quatro foram destruídas no distrito de Itaipava, onde os problemas estão concentrados, e outras tiveram problemas de enchente", informa o secretário de Educação de Petrópolis, William Campos.
Até no trânsito, a organização dos serviços precisou se adequar à "nova realidade", conta o coronel Celso Novaes, chefe da autarquia municipal de trânsito de Nova Friburgo. Os bloquinhos de multa foram deixados de lado e todo o efetivo do órgão está nas ruas para garantir o fluxo dos veículos, principalmente ambulâncias e caminhões de bombeiro e de lixo. A maior dificuldade é a curiosidade. "O movimento da cidade aumentou. Já fiz cinco ou seis pedidos na rádio para o pessoal respeitar nosso trabalho. É difícil, vem gente do Rio tirar retrato", reclama.
Valor Econômico – repórter Luciano Máximo
As prefeituras de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo focaram as ações iniciais de todas as secretarias na busca, salvamento e cuidado aos sobreviventes. "A primeira medida foi criar um comitê emergencial com participação de todas as áreas do governo", conta Jamila Calil Salim Ribeiro, secretária municipal de Saúde de Nova Friburgo, cidade mais prejudicada na região, com 364 mortes registradas. "Muita coisa foi feita no improviso para garantir o atendimento de urgência, agora é limpar e contabilizar as perdas para preparar a reconstrução."
Jamila se refere aos atendimentos médicos, que foram transferidos para a portaria e capela do hospital municipal Raul Sertã, o maior da cidade. Mesmo afetada por uma enchente que inviabilizou os setores de emergência, banco de sangue, farmácia e laboratório, a unidade foi a única a receber as vítimas do desastre em Nova Friburgo, pois os três hospitais privados foram interditados. Igrejas e escolas que se mantiveram em pé serviram de pronto socorro nos distritos mais afastados, onde pelo menos três postos de saúde foram completamente destruídos.
"Sabemos até agora que precisaremos de recursos para remontar laboratórios, comprar equipamentos caros, como um novo raio-x e reveladores, e fazer muitas obras. Mas não dá para fazer nada sem concluir o levantamento dos danos, não posso pedir verbas sem projetos, afinal não posso construir unidades nos mesmos locais", afirma Jamila.
Médicos e oficiais da Marinha e do Corpo de Bombeiros, que levantaram dois hospitais de campanha em Nova Friburgo, informaram que a estrutura permanecerá em operação por mais um mês. Equipes do Ministério da Saúde presentes nas cidades atingidas alertam para o aumento da incidência de doenças intestinais, infecções, cardiopatias e problemas causados pelo contato com a urina de animais no decorrer de todo o ano. "Passados os atendimentos de urgência, a grande tarefa é identificar os pacientes crônicos e mantê-los medicados e transferir os casos mais graves para a capital do Estado", complementa Jamila.
Na educação, a situação também é crítica em Nova Friburgo. Pelo menos 40 das 134 escolas do município foram destruídas pelas enchentes e pelos deslizamentos. O início do ano letivo dos 20 mil alunos, previsto para 7 de fevereiro, foi cancelado e não há uma nova data da volta às aulas. O prejuízo parcial é de R$ 16 milhões, nas primeiras contas do secretário municipal de Educação, Marcelo Verly.
Ele destaca que um "balanço global" sobre as condições da rede municipal de ensino será apresentado na segunda-feira, depois de reunião com os 134 diretores de escola de Nova Friburgo. Apesar de não ter respostas imediatas para os problemas, Verly conta que, para "não embolar demais" o calendário de aulas, as primeiras ações dão conta do remanejamento de alunos das escolas afetadas para unidades em condições de funcionar.
A solução de médio e longo prazo, que vai depender de apoio financeiro do Ministério da Educação (MEC), é o encolhimento da rede, com a construção de colégios maiores, com capacidade para receber mais alunos e oferecer infraestrutura mais ampla para atividades extracurriculares. A ideia é baseada nos antigos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e adotado na rede fluminense na gestão Leonel Brizola, nos anos 1980.
"Temos muitas escolas com 20, 25 alunos. Na comunidade Ribeirão das Voltas, por exemplo, temos uma unidade só com três alunos. Vamos repensar o sistema. Em vez de manter 134 escolas poderemos concentrar tudo em 20, 30 unidades como os Cieps", afirma Verli. "A visão, na verdade, é transformar a crise em oportunidade para resolver problemas em definitivo, não só os que presenciamos agora."
Em Teresópolis e Petrópolis não será necessário adiar o início das aulas, mas muito alunos serão remanejados e as prefeituras vão intensificar o serviço de transporte escolar, principalmente nas regiões mais distantes. As autoridades ainda levantam os estragos. "Das nossas 183 escolas, apenas quatro foram destruídas no distrito de Itaipava, onde os problemas estão concentrados, e outras tiveram problemas de enchente", informa o secretário de Educação de Petrópolis, William Campos.
Até no trânsito, a organização dos serviços precisou se adequar à "nova realidade", conta o coronel Celso Novaes, chefe da autarquia municipal de trânsito de Nova Friburgo. Os bloquinhos de multa foram deixados de lado e todo o efetivo do órgão está nas ruas para garantir o fluxo dos veículos, principalmente ambulâncias e caminhões de bombeiro e de lixo. A maior dificuldade é a curiosidade. "O movimento da cidade aumentou. Já fiz cinco ou seis pedidos na rádio para o pessoal respeitar nosso trabalho. É difícil, vem gente do Rio tirar retrato", reclama.
Valor Econômico – repórter Luciano Máximo
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