sábado, 4 de setembro de 2010

Atendimento é falho em 69% dos casos de dengue no País que acabam em óbito
Saúde. Levantamento do Ministério da Saúde mostra que metade das mortes ocorre em cidades com baixa cobertura no Programa Saúde da Família; taxa de mortalidade é quase quatro vezes maior que o máximo tolerado pela Organização Mundial da Saúde

Lígia Formenti / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Levantamento inédito do Ministério da Saúde nos registros de pacientes que morreram de dengue este ano revela falha no atendimento em 69% dos casos. O trabalho mostra que metade das mortes ocorreu em municípios com baixa cobertura no Programa Saúde da Família.

"Os números indicam a necessidade de ajustes na forma de atendimento", afirma o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage.

A urgência para resolver o problema é reforçada diante do panorama para o verão: 19 Estados, que abrigam 80% da população, apresentam risco muito alto ou alto de epidemia de dengue.

A Organização Mundial da Saúde é enfática ao afirmar que as mortes pela doença são evitáveis. O máximo tolerado é de até 1% dos casos graves. Bem menos que o registrado no País. Até julho, a taxa de mortalidade foi de 3,9%. A pesquisa do ministério, cujos números finais devem ser divulgados até o fim do mês, quer desvendar as razões de taxas tão elevadas. A partir daí, o assunto deverá ser discutido com autoridades locais.

A análise foi feita nos seis Estados que, reunidos, respondem por 70% do total de mortes do País: São Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia. Desenvolvido em colaboração com secretarias estaduais de Saúde e com secretarias municipais das cidades com maiores indicadores, o estudo partiu da avaliação de prontuários, de entrevistas com profissionais de saúde e com familiares do pacientes mortos. "A meta é verificar se há grupos mais vulneráveis e avaliar o tratamento ofertado", contou Hage.

Até o momento, foram analisados 66 casos fatais - número que já permite traçar alguns indicadores. Uma das principais constatações é a de que pacientes não foram atendidos conforme as diretrizes do ministério. "Não foi feita a classificação de risco do paciente", disse Hage.

Em 2009, a pasta divulgou protocolo com orientações sobre como, quando e onde prestar atendimento, de acordo com critérios de risco. Casos mais simples devem ser tratados nas Unidades Básicas de Saúde. Pessoas com sintomas graves devem ser atendidas em hospitais ou encaminhadas a locais onde há leitos disponíveis de UTIs.

Um dos dados apontados pela pesquisa mostra o quanto hospitais ainda são a porta de entrada de pacientes com dengue, apesar das recomendações feitas para se dar prioridade às Unidades Básicas de Saúde. Entre casos de pacientes mortos avaliados, 56% não passaram em postos - foram diretamente para hospitais.

Recorde. A epidemia deste ano é a maior já registrada no País. Até o início de julho foram contabilizados 788.809 casos suspeitos, número 13% maior que o registrado durante todo 2002, ano até então apontado como o pior da história da doença no Brasil, com 697.998 casos. Neste ano a dengue também apresenta mais casos fatais que em 2002: 450 contra 152.

O ATENDIMENTO

Sob suspeita

Paciente com febre com duração máxima de sete dias, acompanhada de dores de cabeça, na parte posterior dos olhos e nas articulações, prostração, erupções na pele, ter estado em áreas de transmissão da dengue ou com presença de Aedes aegypti nos últimos 15 dias.

Classificação de atendimento

Grupo A: Paciente sem sangramento deve procurar Unidades de Atenção Básica de Saúde.

Grupo B: Paciente que também apresenta sangramento deve ir a centros de atendimento que tenham leitos para observação.

Grupo C: Paciente com sinais de alarme (dor abdominal intensa, vômitos, desconforto respiratório e hemorragias) deve procurar centros de atendimento com leitos para internação.

Grupo D: Paciente com sinais de choque (pele com coloração azul-roxeada, pulso rápido, extremidades frias e pressão arterial baixa) deve ir a hospitais com leitos de UTI.

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