quarta-feira, 22 de abril de 2009

A URUCUBACA

Numa conversa no bar do Bode, agora na última Exposição de Miracema, falávamos dos problemas que, ultimamente, Miracema vem passando. Primeiro a enchente, uma das maiores que já ocorreu. Pouco tempo depois, o corte geral do abastecimento d’água, por causa da contaminação com resíduos venenosos no rio Pomba, por uma fábrica de papel de Cataguases. E agora a falta de luz, sem previsão de retorno, numa plena sexta-feira da festa de comemoração dos seus 67 anos.

Aliás, justiça seja feita, o bar do Bode é disparado o melhor bar da Exposição.

Um ouvinte atento à conversa alheia, que estava sentado na mesa ao lado, inclinando sua cadeira para trás e torcendo o pescoço nuns 90 graus, enfiou seu bico quase no meio de nossa mesa e, sem pedir licença, disse: “que U-RU-CU-BAAA-CA? Hein? Precisamos arrumar uma benzedeira, daquelas bem boas, e botar ela num helicóptero pra sobrevoar e benzer Miracema”.

Assim que a cadeira do bicudo reclinou e seu pescoço voltou ao normal, todos nós da mesa, como se fôssemos um coral ensaiado, em voz baixa dessa vez, exclamamos: “não é que ele está com a razão!”.

E a conversa prosseguiu para viabilizar o projeto do Bicudo:

- Mas como vamos arranjar um helicóptero. Aqui em Miracema e nas redondezas não tem. Trazer um do Rio vai custar uma nota preta.
- Podemos substituir por um teco-teco desses que volta e meia sobrevoa por aí, que vai custar bem mais barato.
- Hummmm! Vejam a ruiva que chegou na terceira mesa à frente da nossa?
- Vocês homens são todos iguais.
- Já vem você com essas teorias femininas sobre os homens.
- De onde vamos tirar a grana pra pagar o aviãozinho.
- Aviãozinho? Aquilo é no mínimo um Boeing 747!
- Cala a boca ô panaca! Vamos conversar sério!
- Vamos pedir pro Prefeito. Ele vai entender da necessidade.
- Cadê o garçom? Faz tempo que meu copo tá seco!
- Não, não vai dar certo. O Prefeito não vai dar grana nenhuma porque ele não vai ter como explicar isso pro Tribunal de Contas. Esquece o Prefeito.
- Vou pedir uma parcial. Tenho que ir embora.
- É melhor pedir logo a conta. Quem quiser ficar inicia outra.
- Vamos buscar patrocinadores. Pedir ajuda no comércio e indústria de Miracema.
- Garçom! A conta, por favor.
- Mas traz a saideira. Pra todos.
- Que indústria?
- Não menospreze. Aí mesmo na rua em frente da Exposição tem umas cinco. É verdade que são pequenas indústrias, mas são indústrias!
- Então se esqueceram de expor alguma coisa aqui na exposição, pois só vejo boi, cavalo e barraquinha de camelô?!
- Sessenta e três chopes? Pô! Vocês bebem!
- Tá errada essa conta.
- Tá certa! Somos seis, média de dez chopes pra cada um. Estamos aqui há mais de umas quatro horas.

De repente a luz voltou, provocando um ah!... das pessoas que estavam no recinto da exposição. Então pudemos ver no crepúsculo o colorido das roupas e os rostos do povo e dos visitantes vizinhos de Miracema.

No dia seguinte, no mesmo bar, lá estavam todos novamente de copo na mão e sorridentes. Assim que aportei, um deles disse: “estávamos aqui te esperando para continuar aquela conversa de ontem”.

Eu: Que conversa?
Ele: A do projeto do Bicudo! Sobre a urucubaca!
Eu: E eu lá acredito nessas coisas! Ô Companheiro?!

2 comentários:

AngelMira disse...

Os Curcio, Granato, Giudice são de Casaletto Spartano, tenho uma foto que tirei nesse comune, num mármore na lateral na igreja do pequeno comune com sobrenome das famílias, cruzado c pequisas da Beth Bruno inclusive ratificam.

Andre Brunno disse...

AngelMira. como faço para acessar esse teu conhecimento? sou da familia Bruno do Amazonas.