segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Escolas de Cambuci apostam em novas formas de ensino

Com evasão escolar zero, unidades de Cambuci ganham destaque nacional


Os limites da sala de aula extrapolaram as quatro paredes e invadiram pátios, quadras de esportes e tomaram conta da comunidade e das casas dos alunos. Com a receita simples de aproximar os pais da formação dos filhos e tornar o aprendizado mais interessante com passeios, teatro e feiras, os diretores dos colégio estaduais Waldemiro Pitta e Oscar Batista, em Cambuci, no Noroeste Fluminense, transformaram o ensino em suas escolas e reduziram para zero a evasão escolar.

A comprovação do sucesso está nos resultados do último Ideb: o Waldemiro Pitta é a melhor escola do Estado e a segunda melhor do Brasil, enquanto o Oscar Batista é a segunda melhor nota do Estado e a terceira do Brasil. Mas para atingir os excelentes resultados, os gestores encontraram muitos desafios. Um dos maiores era o abandono dos alunos, que tem que enfrentar longos deslocamentos para assistir às aulas. Em colégios de zonas rurais, além das longas distâncias, muitos estudantes precisam trabalhar nas lavouras. Para o diretor da Oscar Batista, Obede de Souza Peres, de 48 anos, a solução é bater de porta em porta.

- Nossos alunos sumiam da escola e não íamos atrás. Então, nós formamos um grupo de visitadores, com professores, pais, alunos, e passamos a ir na casa de quem está faltando muito. Com isso, passamos a compreender a realidade da família e ver a estrutura que o aluno tem, mostrando a necessidade das crianças estarem na escola. Para quem fica fora na lavoura por um tempo, montamos um plano de estudo para recuperar esse aluno - explicou Obede, que destacou que o transporte escolar passa de porta em porta para pegar e deixar os estudantes.

As mudanças começaram depois do resultado do Ideb de 2007. Abaixo da meta da Secretaria de Educação, a escola começou a se mobilizar para melhorar o desempenho. Aproximar os pais da rotina dos filhos na escola, estimular a leitura, tornar o grêmio estudantil atuante e motivar os alunos com festas, feiras temáticas e passeios para ver na prática o que aprendem na sala de aula foram algumas das medidas adotadas. No 3º ano do ensino médio Normal, Walter Curvelo, de 17 anos, é o exemplo do aluno atuante.

- Faço questão de participar de todas as atividades fora da sala de aula, que acontecem sempre. Acho que torna o ensino mais interessante. Na festa do folclore, por exemplo, fiquei responsável pela tenda temática do Sul do Brasil. Nossa ideia é explicar as curiosidades - contou.

Preocupações além do ensino

O bom desempenho de um aluno não depende apenas da atenção às aulas e estudar em casa. Foi isso que a diretora do Colégio Estadual Waldemiro Pitta, Neliany de Campos Manhães Marinho, de 49 anos, percebeu. De manhã, muitos alunos sentiam dor de cabeça, enjôos e ficavam dispersos. As conversas mostraram que eles acordavam muito cedo e não tomavam café da manhã. A solução? Montar uma padaria dentro da escola.

- Procurei a Secretaria de Educação e fiz o projeto. Hoje, os alunos chegam e tem o pão quentinho para eles comerem. Às vezes fazemos um lanche mais especial. Há uma preocupação porque eles saem muito cedo de casa e por ser uma área rural não temos tanto comércio perto - disse.

Neliany também é adepta dos eventos fora da sala de aula para manter os alunos sempre interessados. De acordo com ela, o calendário escolar é todo baseado nas datas comemorativas. Os alunos representam, e recitam poesias, por exemplo, e as famílias são convidadas para assistir.

A escola é tão atuante que não são apenas os alunos em idade escolar que são atraídos para as carteiras. Aos 40 anos, Cirlene Clarindo Mulina decidiu terminar os estudos e correr atrás do sonho de se tornar professora como os dois filhos. Agora, aos 49, ela está a poucos meses de concluir o curso Normal.

- Eu morava na roça e ia para a escola a cavalo. Como era longe, larguei. Mas sempre pensava em voltar a estudar. Aqui, meu filho me deu aula e quero ser professora também. É um compromisso sério. Tenho um longo caminho, mas quem sabe não chego lá - planeja. 

Fonte: Imprensa RJ

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