quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Rebanho bovino do Noroeste cresce e já tem mais de uma cabeça por hectare das pastagens

O rebanho bovino do Noroeste Fluminense vem crescendo ano a ano chegando a ter em 2017 uma cabeça por 0,9 hectares ou 557.541 cabeças para pastarem em 492.658 ha - área disponível dos 555.524 ha da região subtraída das matas e das áreas plantadas. Uma vez que não foram subtraídas as áreas ocupadas por outros animais como equinos, caprinos e ovinos, assim como as áreas com as edificações e pavimentações das 13 cidades, podemos estimar que esta área de 492.658 ha é ainda menor.

Em condições normais, o recomendável é que haja uma cabeça de bovino por hectare. Mas se houver critérios de preservação da pastagem poderá haver pouco mais de uma cabeça por hectare.

A macrorregião onde a cobertura vegetal encontra-se mais devastada no Estado do Rio é a Noroeste Fluminense. Segundo indicador calculado por estudo da Fiocruz, que varia de zero a 1 (onde 1 é o ponto máximo de cobertura vegetal), o indicador do Noroeste ficou em 0,02, enquanto o da macrorregião em penúltimo lugar (Baixada Litotânea) ficou em 0,29 . Ver postagem sobre os indicadores aqui. 

O café trouxe muita riqueza para o Noroeste, mas contribuiu, em muito, para a devastação da cobertura vegetal da região. 

O cafeeiro rapidamente esgota o solo sobre o qual se assenta caso não haja o devido manejo. Na medida em que os cafezais diminuíam de rendimento com o passar dos anos, eram abandonados e novas faixas de mata nativa abatidas para implantação de novos cafezais. Humberto Machado observa a cultura extensiva do lado ocidental do vale do Paraíba; no entanto, suas constatações também se aplicam à faixa oriental, o Noroeste Fluminense (TÂNIA DE VASCONCELLOS, 2005): 

Ao fazendeiro não interessava a sua manutenção ou o seu reaproveitamento, enquanto existissem terras para serem devastadas. A reprodução dessa estrutura agrária era feita, consequentemente, pela incorporação de mais terras, além da força de trabalho

A disponibilidade de matas virgens e a baixa densidade demográfica da região, assim como a facilidade para obtenção de mão de obra, dificultavam as melhorias técnicas. A baixa relação homem-terra influenciou a forma de produção agrícola desenvolvida no Vale do Paraíba (MACHADO, 1993, p. 47). 

Por muitos anos entre os séculos XIX/XX a produção de café impulsionou o desenvolvimento da região. A pá de cal nos cafezais do Noroeste foi jogada por uma ação do Estado que, na década de 1960, através do Instituto Brasileiro do Café (IBC), patrocinou um grande programa de erradicação de cafezais que eram considerados esgotados e de baixa produtividade (Mizubuti, 1978). Essa erradicação se deu mediante indenização atrativa paga aos fazendeiros em espécie por pé de café erradicado. Pelos termos contratuais o café erradicado deveria ser substituído por outros cultivos, dentro de uma proposta de diversificação das lavouras com o objetivo de instituir-se uma agricultura comercial de mercado interno. Porém, essa diversificação não aconteceu ou perdurou. Hoje em dia, a lavoura de café na região se restringe basicamente aos municípios de Varre-Sai, Porciúncula e Bom Jesus do Itabapoana (ver aqui). 

1950/70 - Esse período é coincidente ao de substituição da cafeicultura pela pecuária na região. A pecuária veio acentuar ainda mais o caráter predatório na relação com o ambiente, pois, [...] 
a substituição da lavoura do café pela criação de gado não liberou áreas para reflorestamento ou recomposição da capoeira. Pelo contrário, a pecuária favoreceu a retirada das últimas reservas” (SECPLAN/CIDE, 1988, p. 24) 

Na tabela I se tenta fazer um exercício para encontrar a área de ocupação de cada município com a criação de bovinos, embora falte na tabela outras ocupações de áreas como a do perímetro urbano do município, etc, o que certamente contribuiria para diminuir a área de pastagem. De acordo com a tabela, a área destinada a unidade de bovinos na região é de 0,9 hectare, sendo maior em Italva (1,1 ha).