quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Apesar dos avanços, nível de consciência ecológica é baixo
A redução da pobreza e a maior escolarização são fatores estratégicos para despertar a consciência ecológica, principalmente nas questões envolvendo o lixo urbano. A conclusão é da pesquisa "Sustentabilidade Aqui e Agora", recém concluída pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com entrevistas em 11 capitais brasileiras sobre hábitos de consumo, descarte e reciclagem. O estudo revelou que apenas 17% da população deixa de comprar produtos pelos impactos ao meio ambiente - restrição que prevaleceu nas classes de maior poder aquisitivo. Embora 74% dos entrevistados estejam motivados a considerar o quesito ambiental no consumo, a maioria não está disposta a pagar mais caro por isso. Em geral, de acordo com a pesquisa, os consumidores estão mais abertos a doar tempo e trabalho comunitário, mas não dinheiro.

Separar resíduos recicláveis nas residências é um hábito para 47% da população, sobretudo a atendida pela coleta municipal, revelou o estudo. Existe a consciência de que embalagens vazias e outros produtos pós-consumo podem ser deixados em estações de coleta nos supermercados. Mas a maior parte dos moradores mistura esses materiais no lixo comum, dificultando a reciclagem. Há um abismo entre o maior nível de informação sobre meio ambiente e a mudança efetiva de comportamento no consumo. O Brasil está atrás de países como Chile, México, África do Sul e Colômbia no hábito de reciclar o lixo doméstico, segundo dados colhidos globalmente pela empresa de consultoria Synovate Brasil, autora da pesquisa brasileira encomendada pelo governo, em parceria com o Walmart.

"Apesar desse desafio, o nível de consciência ambiental é crescente no país", garante Samyra Crespo, diretora de qualidade ambiental do MMA, responsável pela coordenação de estudos sobre o tema desde 1991. Ela informa que o grupo dos "engajados" e dos "influenciáveis" compõe 64% dos consumidores, com destaque para os mais jovens e de maior nível de educação e renda. "Essa disposição do brasileiro indica um terreno fértil para atuarmos com campanhas nos próximos anos", analisa Samyra.

A pesquisa mostrou que bens intangíveis, mais que dinheiro, são o principal motivo de felicidade para a população brasileira. "Isso demonstra que nossa sociedade ainda não é tão consumista e que, por conta disso, há espaço para políticas voltadas ao consumo responsável", completa Samyra, com uma ressalva: "diante do crescimento econômico do país, a estratégia não é reduzir o consumo, mas melhorar sua qualidade."

Economia de água é a principal atitude ecológica do dia a dia, de acordo com o levantamento. Em segundo lugar, está a separação do lixo doméstico e, em terceiro, a redução no consumo de energia. Apesar dessa preocupação, 75% jogam óleo de cozinha usado pelo ralo da pia. Além disso, quase um quinto dos consumidores guardam resíduo eletrônico em casa porque não sabem o que fazer com ele e 50% descartam pilhas e baterias no lixo comum. Para fazer frente a esse cenário e contribuir para que a logística reversa dos aparelhos fora de uso seja realizada conforme determinada a lei, o governo estabeleceu acordo com o Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Pnuma), em parceria com entidades do setor eletroeletrônico, para montar no país um programa de conscientização.

Os entrevistados apontaram a escola como sendo principal foco para trabalhos de educação visando o consumo sustentável, o que indica a aposta nas gerações futuras. "Mas jogar a responsabilidade no ombro dos jovens pode também servir de justificativa para inércia dos mais velhos", diz Samyra. Para 59% dos entrevistados, a preservação dos recursos naturais deve estar acima das questões econômicas. A maioria acredita que os problemas ambientais só podem ser resolvidos com grandes mudanças no hábito de consumo, como no transporte e alimentação.

Os dados mostram a disposição dos brasileiros em aderir a políticas públicas que serão implementadas a partir da legislação, sancionada em agosto, que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Pela nova lei, o consumidor precisará mudar atitudes dentro do conceito de responsabilidade compartilhada, que envolve também governo e empresas. Segundo a pesquisa, 60% da população reconhece os catadores como agentes da coleta seletiva em seus bairros. O assunto é alvo do programa Pró-Catador, lançado no fim dezembro. "O objetivo é fortalecer as cooperativas e criar mecanismos de crédito e de capacitação, ressaltando a importância dessa força de trabalho para a reciclagem."

Mais da metade dos consumidores brasileiros (60%) é a favor de uma nova lei para eliminar o uso de sacolas plásticas, de acordo com a pesquisa do MMA. Somente 23% é contra a proibição. Os números revelaram que os supermercados são vistos como parceiros para a redução desses resíduos: 27% da população indica essa medida como a ação ambiental mais urgente que esses estabelecimentos deveriam empreender. O resultado da pesquisa norteará novas políticas do governo, que recentemente fechou acordo com o setor supermercadista para diminuir 40% das sacolas até 2015. Dependendo da adesão dos consumidores, uma legislação específica sobre o tema poderá ser proposta pelo Executivo. Segundo o estudo, no mundo sem sacos plásticos, 70% das pessoas carregariam as compras em modelos de sacola reutilizáveis, enquanto 25% utilizaram caixas de papelão.

Valor Econômico – repórter Sergio Adeodato

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