Dados da Fundação SOS Mata Atlântica mostram que rios do bioma onde vive maior parte da população brasileira se mantêm distantes da qualidade de água adequada
22/03/2023
Gustavo Veronesi, coordenador da causa de Água Limpa, na Conferência da ON sbre a Água, em Nova Iorque. |
Os dados são da edição de 2023 da pesquisa “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, realizada pelo programa Observando os Rios, que conta com o patrocínio da Ypê. Pela primeira vez, os resultados serão apresentados na Conferência da ONU sobre a Água, que esse ano acontece em Nova York, em 22 de março, Dia Mundial da Água. Os dados ressaltam a condição frágil dos recursos hídricos brasileiros neste momento de emergência climática, demandando atenção imediata dos gestores públicos e da sociedade.
Para o coordenador Gustavo Veronesi, a situação precária do saneamento básico no Brasil, onde menos da metade da população tem acesso ao serviço, e a degradação dos solos e das matas nativas em suas bacias hidrográficas são fatores que contribuem para esse cenário. “Ainda estamos distantes das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Água Potável e Saneamento (ODS 6), preconizado para 2030, e da universalização do saneamento básico, previsto para 2033. Os rios monitorados refletem a urgência de ações voltadas à restauração florestal, ao saneamento básico, aos compromissos do Brasil com o clima e à governança de forma inclusiva e participativa”, afirma.
O relatório apresenta o retrato da qualidade da água em bacias hidrográficas do bioma por meio de dados do Índice de Qualidade da Água (IQA), levantados pela rede de 2.700 voluntários que integram o Observando os Rios. Com base em coletas mensais entre janeiro e dezembro de 2022, foram realizadas 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.
Em comparação aos 106 pontos também analisados em 2021, quando houve uma redução nas coletas devido à pandemia de Covid-19, a qualidade média da água se estabilizou, com indicativo de pequena melhora: os pontos com qualidade boa passaram de 7 para 8; os com regular, de 75 para 80; e os com ruim, caíram de 21 para 15. Assim como no ano anterior, houve três pontos com qualidade péssima – todos, mais uma vez, no rio Pinheiros, em São Paulo.
Destaques
Um rio que chamou atenção positivamente foi o córrego do Sapateiro, na capital paulista, que teve uma melhora em sua nascente devido a ações da prefeitura em parceria com entidades e movimentos da sociedade civil. O mesmo córrego, entretanto, teve ligeira piora no ponto do Lago do Ibirapuera, que vinha apresentando um aumento crescente de qualidade em 2021. O rio Balainho, no município de Suzano (SP), que passou por obras estruturantes de coleta e tratamento de esgoto, também está entre os que mostraram melhora, ressaltando a relação causa-efeito de ações dessa natureza.
O destaque negativo foi o rio Paraíba do Sul. Um dos pontos em Itaocara (RJ) apresentou piora principalmente devido à redução da vazão do rio em boa parte do ano, evidenciando a falta de tratamento de esgoto. Em outros dois pontos no litoral norte paulista, muito movimentados em alta temporada, aconteceu o mesmo: os córregos Paquera, em Ilhabela, e Maresias, em São Sebastião.
Diretora de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro explica que um dos objetivos da organização é que o acesso à água limpa seja reconhecido como um direito fundamental de brasileiros e brasileiras. “Para isso estamos mobilizados, com a nossa rede de voluntariado do Observando os Rios e parceiros, para a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC nº 06/2021) na Câmara dos Deputados. O alcance do direito fundamental à água limpa para todos será resultado de um processo de longo prazo de políticas públicas consistentes e de projetos de saneamento ambiental e conservação das bacias hidrográficas do país”, completa.
O estudo está disponível para download aqui.
Veja abaixo registros dos grupos voluntários de monitoramento:
Kit de monitoramento do programa Observando os Rios.
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