Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil
Os vertebrados de grande porte, como onças, lobos-guarás
e capivaras, somam 5 milhões de animais atropelados em
estradas
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O Projeto de Lei 466/2015 quer garantir a segurança de pessoas e
animais silvestres com a adoção de medidas que asseguram a livre
circulação dessas espécies no território nacional, com a redução de
acidentes em rodovias e ferrovias brasileiras. A proposta tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados e aguarda votação no plenário desde o dia 22 de março.
Segundo
levantamento do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas
(CBEE) da Universidade Federal de Lavras, 475 milhões de animais
selvagens são atropelados no Brasil a cada ano. Segundo o coordenador do
centro, o professor e pesquisador Alex Bager , 90% deles são pequenos
vertebrados, como sapos, cobras e aves.
“Eles representam mais de
400 milhões e são igualmente importantes, então também merecem ser mais
bem estudados. O fato de nós não perceberemos [esses pequenos animais]
não implica que isso também não tenha uma tremenda importância para a
conservação da biodiversidade no Brasil”, disse. Os vertebrados de
grande porte, como antas, capivaras, lobos-guarás e onças, somam 5
milhões de animais atropelados.
Para
o pesquisador, a aprovação do projeto de lei seria uma das maiores
contribuições para a conservação da biodiversidade do Brasil. “É uma
legislação que estaria atuando em todo território nacional e que geraria
algumas obrigações que, se bem monitoradas e implementadas, vão
favorecer tanto a proteção da biodiversidade quanto a proteção das
pessoas. Imagina esses 5 milhões de animais de grande porte que são
atropelados todos os anos? Eles geram um custo tanto de perda material
quanto de perda de vida que ainda não está quantificado no Brasil.”
Segundo
Bager, em outros países, são gastos bilhões de dólares todos os anos
com acidentes envolvendo animais selvagens. “Então estamos discutindo um
aspecto que tem importância ambiental, social e econômico. É
fundamental que esse projeto seja aprovado”, disse.
Livre circulação
Entre
as medidas previstas no projeto de lei estão a instalação de redutores
de velocidade e refletores e a adoção de medidas de mitigação, como
construção de passagens de fauna aéreas ou subterrâneas, pontes e
cercas.
Segundo o coordenador do CBEE, 19 planos de ação para
conservação da fauna desenvolvidos pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que contemplam em torno de 35
espécies ameaçadas no Brasil, afirmam a necessidade de trabalhos e
estudos para reduzir a mortalidade por atropelamento. “Isso em virtude
de já se entender que essas espécies são impactadas sim pela presença de
rodovias e ferrovias.”
De acordo com Bager, os felinos de modo
geral são fatalmente impactados. “Eles caminham muito e precisam de uma
grande área para conseguir a comida de que eles necessitam para viver.
Como existem muitas rodovias e ferrovias, isso obriga que eles fiquem
cruzando as pistas. Assim como os felinos, animais que caminham muito
como lobo-guará e anta estão altamente sujeitos a atropelamento”, disse.
Outros impactos
Os
atropelamentos são o impacto mais visível nas rodovias, mas, segundo o
pesquisador, existem os chamados efeitos marginais que podem chegar a
vários quilômetros do eixo da rodovia. “Por exemplo, o som. O som do
motor, o som da buzina, o som do carro simplesmente passando pela pista
gera interferência na capacidade de animais que tem uma necessidade
auditiva para localizar parceiros, comida, para se identificar na região
que está”, explicou.
Segundo Bager, entre os 475 milhões de
animais mortos, estão os afetados por esses efeitos. “Aquela espécie que
chega na borda da mata, olha para a rodovia e não tem coragem de
atravessar. Ela não é atropelada, mas imagina se a comida dela se
encontra do outro lado da pista? Ela não consegue chegar lá. Existem
muitas espécies que têm esse receio de cruzar a pista, ela é igualmente
impactada, talvez de uma forma mais lenta, ela não morre imediatamente,
mas acaba sendo impactada a longo prazo”, ressaltou.
Trechos críticos
Entre os trechos de rodovias mais críticos para os animais, o coordenador do CBEE destaca quatro:
BR-471,
no Rio Grande do Sul, no ponto que cruza a Estação Ecológica do Taim:
“A mortalidade de animais lá é assustadora e faz décadas que isso
acontece. Temos uma área de banhado no entorno, de grandes plantações de
arroz e a mortalidade de animais lá é impressionante.”
BR-101,
no norte do Espírito Santo, no trecho que cruza a Reserva Biológica de
Sooretama: “Ela cruza no Brasil inteiro uma infinidade de áreas
extremamente importantes na região costeira, uma delas é essa no
Espírito Santo.”
BR-262, em Mato Grosso do Sul, no trecho que
divide o Cerrado e o Pantanal: “Todo o trecho dela que começa em Três
Lagoas (MS) é uma carnificina. Lá já foram implantados alguns redutores
de velocidade, algumas medidas, mas ainda é extremamente importante que
se faça alguma coisa. A região é um importante polo turístico, de Campo
Grande para Bonito, e aquelas cenas de animais mortos na beirada da
pista são um ponto extremamente negativo.”
BR-163, no trecho que
cruza Mato Grosso e Mato Grosso do Sul: “A rodovia foi repassada para
concessionárias há aproximadamente um ano e, nos próximos quatro anos,
ela tem que se duplicada, depois disso vai ser um problema muito grande
que merece um estudo bem detalhado. Este é um momento extremamente
oportuno de implantar essas medidas de mitigação, porque os custos vão
ser muito menores. Isto que as concessionárias e o governo precisam
perceber, que se as medidas são implantadas antes, durante o
planejamento, ele se torna muito mais barato.”
Sistema Urubu
O
CBEE desenvolveu o Sistema Urubu, lançado em 2014 e que já conta com
mais de 17 mil parceiros responsáveis por registrar e enviar informações
sobre atropelamentos de animais silvestres em todo o país. As fotos e
coordenadas recolhidas por meio de um aplicativo para celular são
validadas por especialistas e direcionadas a um banco de dados.
O aplicativo está disponível para os sistemas Android e iOS.
Edição: Juliana Andrade
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