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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fotografando e ouvindo causos no RVS da Ventania

Depois de explorar bastante as áreas de mata da APA (Área de Proteção Ambiental) Miracema (Ventania de Baixo), em busca de pássaros e outros bichos para fotografar, passei a frequentar mais o RVS (Refúgio de Vida Silvestre) da Ventania, que vem a ser uma área relativamente pouca explorada por mim, em referência a observação de pássaros. As inúmeras incursões que fiz na APA renderam muitas fotos e grande variedade de espécies de pássaros.

Tanto na APA quanto no RVS, o acesso é por estradas vicinais de serra, o que não é bom para trafegar de moto, devido a erosões que se formam com a descida da água de chuva caída na cabeceira da serra e, também, por causa de musgos sobre a superfície da estrada, extremamente escorregadios, formados pela umidade da floresta, principalmente nesta época do ano. Mas, apesar de alguns tombos, vou insistindo. O aclive da estrada na serra do RVS, que dá acesso ao cume do Morro de Santo Antônio, a 860 m acima do nível do mar, é bem mais acentuado do que o da APA.

Nestes lugares, sempre converso com moradores para pedir orientação sobre a área e acabo fazendo amizades maravilhosas, pois tenho muita admiração pelo homem do campo, que geralmente tem muitas virtudes difíceis de ver hoje em dia. Também escuto muitos causos interessantes e divertidos. Recentemente, bati uma prosa muito boa com um antigo morador do RVS. Ele fez questão de me alertar para tomar muito cuidado com as cobras que existem por lá, pois não são cobras comuns que se veem em outro lugar. E prosseguiu na conversa:

Ele: a jararaca é uma cobra danada, depois que os filhotes nascem dos ovos, ela engole um por um para depois regurgita-los em locais distantes uns dos outros.

Eu: mas isso não é lenda não?

Ele: não senhor. Mas o senhor deve ficar mais atento ainda são com as surucucus enormes que existem por aqui, chegam a ter mais de quatro metros. Aqui tem três espécies de surucucu, a oito, a dourada e ... [não me lembro do nome da terceira espécie que ele disse]. Todas são perigosíssimas, pois elas vem de encontro a você quando se faz algum barulho, como bater com um pau no tronco. Quando ela te percebe pelo faro ou calor do seu corpo, já que enxergam muito pouco, faz barulho batendo com a ponta da cauda no chão para avisar sua presença, fica com metade do corpo em pé e corre atrás de você. Vou lhe dar um conselho: quando você tiver que correr de uma surucucu não escolha uma direção que seja descida, pois assim a cobra ganha mais velocidade. Corra sempre em direção a uma subida de morro.

Eu: isso também não é lenda não? Pois do pouco que conheço sobre surucucu, ela não corre atrás de ninguém. Mas realmente avisa da sua presença, levanta a metade do corpo e fica em posição de bote só para se defender, caso se sinta ameaçada.

Ele: tô vendo que o senhor não tá acreditando. Quero ver se você ainda vai ter essa opinião depois que encontrar uma surucucu daqui. Aqui pertinho mesmo na estrada dentro da mata que o senhor passou para vir pra cá tem uma muito grande que já vi várias vezes e levei corrida dela. Sei de um lugar onde tem uma surucucu perto de uns troncos secos e ocos, que muita gente daqui sabe e evita passar por lá. Se o senhor tiver coragem vou te levar lá, mas vai ter que ser com o tempo um pouco mais quente. Pode me procurar que vou te levar lá para você filmar.

Eu: ah! Que bom. Quero muito fotografar uma surucucu, pois ela hoje em dia é uma das cobras mais ameaçadas de extinção. Quando o tempo melhorar, vou lhe procurar para mostrar esta surucucu olímpica daqui do lugar.

Obs.: não revelei o nome da pessoa porque não pedi autorização para tal.

Realmente o lugar tem todas as características de habitat da surucucu, muita umidade e floresta.

Lamentavelmente vândalos destruíram um dos marcos em bronze da divisa RJ/MG que fica no cume do Morro de Santo Antônio, local de decolagem de voo livre, e roubaram outro. Êtha gentalha!

Fotos tiradas no RVS da Ventania:

Sagui-da-serra-escuro, saí-andorinha (fêmea), mergulhão-pequeno e marreca-de-bico-rocho, macho e fêmea com filhotes.

Casal de pararu-azul (o macho é o da esquerda), mariposa a ser identificada e quiriquiri.

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