Mangueira, Salgueiro, Unidos da Tijuca, Mocidade
Independente de Padre Miguel. Tenha a importância, a tradição ou o nome
que tiver, todas as agremiações carnavalescas cariocas são, antes,
Grêmio Recreativo Escola de Samba (GRES). A padronização da nomenclatura
surgiu em 1935, quando as escolas foram obrigadas a tirar alvará na
Delegacia de Costumes e Diversões para poder desfilar no carnaval.
Conta a história que o delegado Dulcídio Gonçalves, decidido a dar
um aspecto de maior organização aos desfiles das escolas de samba,
negou-se a conceder o alvará a associações com nomes considerados
esdrúxulos. Essa foi a razão de a Portela ter de abandonar o nome pelo
qual era conhecida: Vai Como Pode. Para registrar as escolas, os seus
representantes precisavam ir aos distritos policiais existentes na época
e conversar com os delegados
Segundo o jornalista, radialista e especialista em carnaval, Rubens
Confete, o surgimento das escolas de samba decorreu da necessidade de o
negro se inserir na sociedade, o que, por falta de opção, se dava na
época a partir do samba. Para ele, o sambista é, acima de tudo, uma
consequência da necessidade de inserção social do negro. Paulo da
Portela, que nasceu na zona portuária, já em 1923 ia para Madureira – na
zona norte da cidade - buscando a sociabilidade.
A denominação escola de samba surge mais ou menos no início dos anos
1930. Nessa época, o sambista Ismael Silva, cantava no bairro do
Estácio, na região central do Rio, ao lado de um estabelecimento de
ensino. Ele já pertencia à Deixa Falar, hoje Estácio de Sá, e deduziu
que se a Escola Normal formava professores, a Deixa Falar formava
professores do samba.
É por essa razão que, vários historiadores consideram a Estácio de
Sá, criada por Ismael Silva, a primeira escola de samba do carnaval do
Rio. Criada no fim da década de 1920, ela foi formada inicialmente por
um grupo de amigos, dentre eles Pixinguinha, que se reuniam
periodicamente nos bares ou em casas de amigos no bairro do Estácio.
A moda pegou e, a partir daí, os blocos e as escolas de samba, sob a
forma de agremiações, se espalharam por todo o Rio. No carnaval, elas
se concentravam, principalmente na Praça Onze e na Cidade Nova. O local
chegou a ser considerado o berço do carnaval carioca e foi tema do samba
enredo da Salgueiro em 1970, Praça Onze, Carioca da Gema. A partir da
metade dos anos 1950, esses grupos começaram a se fundir, formando
organizações cada vez maiores e a adquirir uma estrutura administrativa
mais rígida, com diretores, conselheiros, tesoureiros e secretários.
Para o jornalista Rubens Confete, no entanto, a história de que a
Deixa Falar foi a primeira escola de samba do Rio é “meio confusa”. Ele
discorda que a primeira escola de samba tenha nascido no Estácio.
“Era um grupo de samba que já havia e que se autodenominou escola de
samba. Mas o samba não nasceu no Estácio. Nasceu na zona portuária, ali
naquela 'pequena África'. Ali é que se dava o grande movimento do
samba”.
Segundo Confete, “a verdade do samba é que ele vem já desde o século
19 com Hilário Jovino, um músico pernambucano com passagem pela Bahia e
que se radicou na zona portuária e saía com os amigos para fazer samba,
e também choro, nas casas da cidade. E daí ele cria, aí sim, o primeiro
embrião de escola de samba”.
Segundo o radialista, havia uma tradição folclórica de ranchos
pastoris, “que era aquela coisa do profano-sagrado”, que louvavam os
reis magos, e Jovino transforma isso em um rancho carnavalesco.
“E a prova disso é que as primeiras escolas de samba se chamavam As
Mulheres de Pastoras – minhas pastoras. E foi ele que criou isso, o
primeiro embrião de escola de samba que, a despeito de tenderem para o
samba, ainda eram à época bastante europeizadas”. Segundo Confete, foram
essas agremiações que se transformaram ao longo dos anos até se tornar
as agremiações carnavalescas de hoje.
Naquela época, já existia a separação de funções nas escolas:
compositores, instrumentistas, sambistas e dançarinas (que eram chamadas
de pastoras). As mulheres se fantasiavam de baianas (foi daí que surgiu
a ala das baianas, hoje obrigatória nos desfiles). Os homens, por sua
vez, usavam camisas listradas e chapéus de palha, inspirados em
capoeiristas da época – figurino que foi imortalizado como a típica
imagem do malandro carioca.
Um levantamento mais apurado sobre a evolução dos desfiles de
carnaval nos remete à segunda metade do dos anos 1950, quando os
diversos grupos existentes começaram a se fundir, se transformando em
organizações cada vez maiores.
Confete lembra que as competições tiveram origem incentivadas pelo
jornal O Mundo Esportivo, de propriedade de Mário Rodrigues, pai de
Nélson Rodrigues e de Mário Filho. “Foi ele que criou os primeiros
concursos e, aí sim, pode-se dizer que surgiu a Deixa Falar, hoje
Estácio de Sá, considerada a primeira escola de samba da história do
carnaval do Rio. Depois vieram as outras, como a Mangueira e a Portela”.
Nielmar de Oliveira/Tereza Barbosa - Agência Brasil
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