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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Garotinho pode se consolidar para disputa do Rio em 2014 após eleições municipais



O resultado das urnas nas sete cidades fluminenses onde haverá segundo turno para as eleições municipais no próximo domingo (28) poderá consolidar o retorno de um nome muito conhecido à linha de frente da política do Rio de Janeiro. Embalado pela vitória obtida em 25 cidades do interior no primeiro turno e livre, até segunda ordem, de seus problemas com a Justiça, o ex-governador Anthony Garotinho, atualmente deputado federal pelo PR, surge como nome forte para a disputa pelo governo do estado em 2014, apesar do fracasso de sua aliança com o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) na capital.
No segundo turno, Garotinho tem chances de vitória em cidades politicamente importantes como São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do Estado, Volta Redonda e Belford Roxo. Nos três casos, os candidatos do PR ou apoiados pelo partido enfrentarão adversários do PMDB ou de partidos que compõem a base do governador Sérgio Cabral. A disputa antecipa 2014, quando Garotinho deverá ter como adversário o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que conta com o apoio de Cabral. Outro virtual candidato ao governo estadual é o senador petista Lindbergh Farias.
Em São Gonçalo, Neilton Mulin (PR) enfrenta Adolfo Konder (PDT), que tem o apoio de Cabral após a derrota da candidata do PMDB no primeiro turno. Em Volta Redonda, o prefeito Antônio Francisco Neto (PMDB) tenta a reeleição contra Jorge Zoinho (PR). Em Belford Roxo, Dennis Dauttman (PCdoB), com o apoio do governador, enfrenta o ex-pagodeiro e pastor evangélico Waguinho (PRTB), aliado de Garotinho.
Nas duas cidades mais importantes da Baixada Fluminense, os candidatos apoiados por Cabral no segundo turno são peemedebistas que já foram aliados de Garotinho quando este governava o Rio e presidia o partido. Por isso, em caso de duelo entre o ex-governador e o PMDB em 2014, é impossível prever o comportamento tanto de Nelson Bornier (Nova Iguaçu) quanto de Washington Reis (Duque de Caxias), fato que leva Garotinho a apoiá-los, ainda que de forma discreta, contra Sheila Gama (PDT) e Alexandre Cardoso (PSB), respectivamente.
Com candidatos da própria legenda, o PR venceu no primeiro turno em apenas seis municípios fluminenses, mas candidaturas apoiadas por Garotinho venceram em outros 19 municípios, fortalecendo o ex-governador, sobretudo nas regiões Norte e Noroeste do Estado, seu maior reduto político.
A principal vitória do grupo de Garotinho aconteceu em Campos, onde sua mulher, a prefeita Rosinha Garotinho (PR), foi reeleita com 70% dos votos. Enquadrada na Lei de Ficha Limpa, a ex-governadora chegou a ter sua candidatura indeferida durante a campanha, mas uma liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu que concorresse. Seu caso ainda vai a plenário.

Problemas com a Justiça
Rosinha tem duas condenações no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) por uso indevido dos meios de comunicação e abuso de poder econômico nas eleições de 2008. Tornada inelegível por três anos, assim como Garotinho, a prefeita de Campos obteve liminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para continuar no cargo. Seu caso até hoje está em suspenso, sem ter sido julgado no TSE, da mesma forma que a ação no STF relacionada à Lei de Ficha Limpa. Nesta última, se condenada pelo Supremo, Rosinha estará inelegível por oito anos a partir da data da condenação.
Mesmo as incertezas do casal Garotinho em relação à Justiça foram amenizadas na quarta-feira, quando o STF rejeitou por seis votos a um a denúncia contra o ex-governador por participação em um esquema de compra de votos nas eleições de 2004 para a Prefeitura de Campos, quando Rosinha governava o Rio e o candidato a prefeito era Geraldo Pudim (PMDB). Garotinho não comentou a decisão do STF publicamente ou em seu blog, mas pessoas próximas ao ex-governador comemoraram uma vitória na Justiça que, aliada ao novo fôlego dado pelas urnas, o credenciam para pleitear novamente o Governo do Estado.
Em outra frente, no entanto, o Ministério Público Federal obteve na véspera da votação do primeiro turno uma liminar bloqueando todos os bens de Garotinho, Rosinha e mais 17 pessoas, acusadas de desviarem R$ 1 milhão dos cofres públicos estaduais para irrigar campanhas eleitorais entre 1999 e 2006, período em que o casal governou o Rio. Indagados sobre essa ação em meio à comemoração pela reeleição de Rosinha em Campos, os ex-governadores se disseram “vítimas de perseguição política” e garantiram aos jornalistas que seus bens não estão bloqueados.

Sem Cesar
Apesar da análise positiva do quadro formado pelas eleições municipais, Garotinho já deu sinais de que irá abandonar um projeto que imaginou como um dos alicerces para seu retorno em 2014: a aliança com o ex-prefeito Cesar Maia, antigo – e ferrenho – adversário na política estadual. O acordo entre os dois caciques parece não ter sido bem assimilado pelo eleitorado carioca, e a chapa para a Prefeitura do Rio formada pelos herdeiros Rodrigo Maia (DEM) e Clarissa Garotinho (PR) naufragou nas urnas, chegando em terceiro lugar com apenas 2,94% dos votos válidos.
Tão logo saiu o resultado das eleições no Rio, Garotinho iniciou suas críticas à campanha da dobradinha com o DEM na capital: “Eu propus, assim que firmamos a aliança e também no início da campanha eleitoral, que eles (Rodrigo e Clarissa) se dedicassem a buscar o nosso eleitor, o eleitor do Garotinho, que é um eleitorado de massa. No entanto, eles preferiram buscar os eleitores do Cesar Maia na Zona Sul. A campanha deu no que deu”, disse.
Durante a campanha, Garotinho praticamente não participou de atividades de rua e somente apareceu no programa de tevê de Rodrigo no dia 17 de setembro, já na reta final da campanha eleitoral. Ainda assim, o momento em que o ex-governador mais se fez notar aconteceu quando fez o que julgou ser uma crítica ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), dizendo que ele “vai a passeatas gay de manhã e depois vai à igreja evangélica dar glória a Deus”. O prefeito, que foi reeleito no primeiro turno, obteve direito de resposta no programa da aliança DEM/PR e a posição de Garotinho mereceu o repúdio dos movimentos sociais, fato que não contribuiu para o fortalecimento da aliança com Cesar.

Fonte: Correio do Brasil de ontem (23/10)

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