O resultado das urnas nas sete cidades
fluminenses onde haverá segundo turno para as eleições municipais no próximo
domingo (28) poderá consolidar o retorno de um nome muito conhecido à linha de
frente da política do Rio de Janeiro. Embalado pela vitória obtida em 25
cidades do interior no primeiro turno e livre, até segunda ordem, de seus
problemas com a Justiça, o ex-governador Anthony Garotinho, atualmente
deputado federal pelo PR, surge como nome forte para a disputa pelo governo do
estado em 2014, apesar do fracasso de sua aliança com o ex-prefeito Cesar Maia
(DEM) na capital.
No segundo turno, Garotinho tem chances de
vitória em cidades politicamente importantes como São Gonçalo, segundo maior
colégio eleitoral do Estado, Volta Redonda e Belford Roxo. Nos três casos, os
candidatos do PR ou apoiados pelo partido enfrentarão adversários do PMDB ou de
partidos que compõem a base do governador Sérgio Cabral. A disputa antecipa
2014, quando Garotinho deverá ter como adversário o vice-governador Luiz
Fernando Pezão (PMDB), que conta com o apoio de Cabral. Outro virtual candidato
ao governo estadual é o senador petista Lindbergh Farias.
Em São Gonçalo, Neilton Mulin (PR) enfrenta
Adolfo Konder (PDT), que tem o apoio de Cabral após a derrota da candidata do
PMDB no primeiro turno. Em Volta Redonda, o prefeito Antônio Francisco Neto
(PMDB) tenta a reeleição contra Jorge Zoinho (PR). Em Belford Roxo, Dennis
Dauttman (PCdoB), com o apoio do governador, enfrenta o ex-pagodeiro e pastor
evangélico Waguinho (PRTB), aliado de Garotinho.
Nas duas cidades mais importantes da Baixada
Fluminense, os candidatos apoiados por Cabral no segundo turno são
peemedebistas que já foram aliados de Garotinho quando este governava o Rio e
presidia o partido. Por isso, em caso de duelo entre o ex-governador e o PMDB
em 2014, é impossível prever o comportamento tanto de Nelson Bornier (Nova
Iguaçu) quanto de Washington Reis (Duque de Caxias), fato que leva Garotinho a
apoiá-los, ainda que de forma discreta, contra Sheila Gama (PDT) e Alexandre
Cardoso (PSB), respectivamente.
Com candidatos da própria legenda, o PR venceu no
primeiro turno em apenas seis municípios fluminenses, mas candidaturas apoiadas
por Garotinho venceram em outros 19 municípios, fortalecendo o ex-governador,
sobretudo nas regiões Norte e Noroeste do Estado, seu maior reduto político.
A principal vitória do grupo de Garotinho
aconteceu em Campos, onde sua mulher, a prefeita Rosinha Garotinho (PR), foi
reeleita com 70% dos votos. Enquadrada na Lei de Ficha Limpa, a ex-governadora
chegou a ter sua candidatura indeferida durante a campanha, mas uma liminar
concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF)
permitiu que concorresse. Seu caso ainda vai a plenário.
Problemas com a Justiça
Rosinha tem duas condenações no Tribunal Regional
Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) por uso indevido dos meios de comunicação
e abuso de poder econômico nas eleições de 2008. Tornada inelegível por três
anos, assim como Garotinho, a prefeita de Campos obteve liminar no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) para continuar no cargo. Seu caso até hoje está em
suspenso, sem ter sido julgado no TSE, da mesma forma que a ação no STF
relacionada à Lei de Ficha Limpa. Nesta última, se condenada pelo Supremo,
Rosinha estará inelegível por oito anos a partir da data da condenação.
Mesmo as incertezas do casal Garotinho em relação
à Justiça foram amenizadas na quarta-feira, quando o STF rejeitou por seis
votos a um a denúncia contra o ex-governador por participação em um esquema de
compra de votos nas eleições de 2004 para a Prefeitura de Campos, quando
Rosinha governava o Rio e o candidato a prefeito era Geraldo Pudim (PMDB).
Garotinho não comentou a decisão do STF publicamente ou em seu blog, mas
pessoas próximas ao ex-governador comemoraram uma vitória na Justiça que,
aliada ao novo fôlego dado pelas urnas, o credenciam para pleitear novamente o
Governo do Estado.
Em outra frente, no entanto, o Ministério Público
Federal obteve na véspera da votação do primeiro turno uma liminar bloqueando
todos os bens de Garotinho, Rosinha e mais 17 pessoas, acusadas de desviarem R$
1 milhão dos cofres públicos estaduais para irrigar campanhas eleitorais entre
1999 e 2006, período em que o casal governou o Rio. Indagados sobre essa ação
em meio à comemoração pela reeleição de Rosinha em Campos, os ex-governadores
se disseram “vítimas de perseguição política” e garantiram aos jornalistas que
seus bens não estão bloqueados.
Sem Cesar
Apesar da análise positiva do quadro formado
pelas eleições municipais, Garotinho já deu sinais de que irá abandonar um
projeto que imaginou como um dos alicerces para seu retorno em 2014: a aliança
com o ex-prefeito Cesar Maia, antigo – e ferrenho – adversário na política
estadual. O acordo entre os dois caciques parece não ter sido bem assimilado
pelo eleitorado carioca, e a chapa para a Prefeitura do Rio formada pelos
herdeiros Rodrigo Maia (DEM) e Clarissa Garotinho (PR) naufragou nas urnas,
chegando em terceiro lugar com apenas 2,94% dos votos válidos.
Tão logo saiu o resultado das eleições no Rio,
Garotinho iniciou suas críticas à campanha da dobradinha com o DEM na capital:
“Eu propus, assim que firmamos a aliança e também no início da campanha
eleitoral, que eles (Rodrigo e Clarissa) se dedicassem a buscar o nosso
eleitor, o eleitor do Garotinho, que é um eleitorado de massa. No entanto, eles
preferiram buscar os eleitores do Cesar Maia na Zona Sul. A campanha deu no que
deu”, disse.
Durante a campanha, Garotinho praticamente não
participou de atividades de rua e somente apareceu no programa de tevê de
Rodrigo no dia 17 de setembro, já na reta final da campanha eleitoral. Ainda
assim, o momento em que o ex-governador mais se fez notar aconteceu quando fez
o que julgou ser uma crítica ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), dizendo que ele
“vai a passeatas gay de manhã e depois vai à igreja evangélica dar glória a
Deus”. O prefeito, que foi reeleito no primeiro turno, obteve direito de
resposta no programa da aliança DEM/PR e a posição de Garotinho mereceu o
repúdio dos movimentos sociais, fato que não contribuiu para o fortalecimento
da aliança com Cesar.
Fonte: Correio do Brasil de ontem
(23/10)
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