CNBB quer ampliar base na nova classe média
Cristiane Agostine | De Aparecida (SP)Valor Econômico - 16/05/2011
O novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno, assume o comando da entidade com o desafio de aproximar a igreja da nova classe média. Ao analisar a relação entre religião e economia, Damasceno aposta que a ascensão social de milhares de brasileiros enfraquecerá as religiões neopentecostais e abrirá oportunidades para os católicos ampliarem suas bases. A dificuldade, no entanto, será conciliar no mesmo discurso os preceitos da igreja e a valorização do consumo, analisam religiosos e especialistas.
Eleito na semana passada na 49ª Assembleia-Geral da CNBB, em Aparecida, dom Damasceno defende que a igreja "saia do comodismo". "Temos que ir atrás daqueles que estão mais distantes da comunidade. As paróquias têm que deixar de ser de manutenção. Têm de ser mais missionárias", afirma.
O cardeal arcebispo diz que a igreja "não se sente ameaçada" pelos evangélicos e afirma que nos locais onde as pessoas ascenderam socialmente diminuiu a presença de evangélicos. Para defender sua tese, dom Damasceno cita a pesquisa "Economia das Religiões", da Fundação Getúlio Vargas, que indica que o alto nível de pobreza e miséria nas periferias das grandes cidades deixaria a população local suscetível a propostas religiosas que tragam solução imediata. "Podemos não ter avançado, mas também não houve recuo no número de católicos", diz.
Ao mesmo tempo em que busca a nova classe média e fiéis de religiões neopentecostais, a cúpula da igreja preocupa-se. "Não vamos oferecer soluções imediatas", diz o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner. A valorização do consumo, com a ascensão social, é uma das principais preocupações. O tema foi levado para o centro do debate na Campanha da Fraternidade de 2010, cujo lema foi "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro".
Para o sociólogo Rudá Ricci, o desafio da igreja será atualizar o discurso. "Essa nova classe média não está à procura de reflexão teológica. Quer segurança e conforto", analisa. "Eles vinculam o sucesso como sinal de Deus. A igreja católica não faz essa relação", diz.
O sociólogo aponta que a eleição de dom Damasceno, com perfil conservador, está relacionada às mudanças sociais registradas no país. "Na igreja, os progressistas estão passando por uma crise, da mesma forma que movimentos como o MST vivem. Antes, os progressistas falavam para os miseráveis. Essa parcela se reduziu. A direita de igreja católica avançou na medida em que o PT se aproximou dos mais conservadores na política. Há um movimento em direção ao conservadorismo."
Além do perfil conservador, dom Damasceno é tido como conciliador e tem bom trânsito político. O religioso assumiu o mandato sinalizando uma reaproximação da igreja com o governo federal, depois da tensão das eleições de 2010.
O aborto e a união de casais do mesmo sexo ficaram no centro do debate da última campanha presidencial e parte da igreja posicionou-se contra o PT e Dilma Rousseff. Ao fazer um balanço dos primeiros meses da gestão federal, dom Damasceno elogiou a presidente. "Dilma não tomou nenhuma atitude que fosse contra a vida. O diálogo tem sido bom", diz. Durante a campanha eleitoral, o religioso defendeu abertamente que o aborto fosse tema de debate dos candidatos.
A tentativa de superar o mal-estar com o governo foi registrada em nota oficial, dentro do texto de uma moção de apoio à Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida - Contra o Aborto. "Reconhecemos o valor e os objetivos dos diversos projetos do governo a favor da vida no período da gestação e da primeira infância, desde que a criança seja respeitada a partir da fecundação", registraram os bispos, em referência ao Rede Cegonha. O programa, voltado a gestantes e recém-nascidos, foi lançado por Dilma no começo da gestão, em um aceno aos religiosos.
Além do aborto, a união civil homoafetiva também esteve na pauta da Assembleia-Geral da CNBB. Durante o encontro, o tema voltou a ter destaque nacional, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de estender a casais do mesmo sexo os direitos previstos na legislação aos casais heterossexuais. Dom Damasceno evitou falar sobre o assunto. Questionado, repetiu diversas vezes que a igreja se pronunciou em nota e que não falaria nada além do documento oficial. Anos antes, porém, o arcebispo de Aparecida engajou-se em campanha contra a votação no Congresso do projeto de lei 1.151/95, que garantia direitos de herança e previdência a casais do mesmo sexo. Então secretário-geral da CNBB, assinou um texto sobre o "perigo de uniões antinaturais" e do "risco" de o reconhecimento da união ser o primeiro passo para que homossexuais adotem crianças.
Eleito na semana passada na 49ª Assembleia-Geral da CNBB, em Aparecida, dom Damasceno defende que a igreja "saia do comodismo". "Temos que ir atrás daqueles que estão mais distantes da comunidade. As paróquias têm que deixar de ser de manutenção. Têm de ser mais missionárias", afirma.
O cardeal arcebispo diz que a igreja "não se sente ameaçada" pelos evangélicos e afirma que nos locais onde as pessoas ascenderam socialmente diminuiu a presença de evangélicos. Para defender sua tese, dom Damasceno cita a pesquisa "Economia das Religiões", da Fundação Getúlio Vargas, que indica que o alto nível de pobreza e miséria nas periferias das grandes cidades deixaria a população local suscetível a propostas religiosas que tragam solução imediata. "Podemos não ter avançado, mas também não houve recuo no número de católicos", diz.
Ao mesmo tempo em que busca a nova classe média e fiéis de religiões neopentecostais, a cúpula da igreja preocupa-se. "Não vamos oferecer soluções imediatas", diz o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner. A valorização do consumo, com a ascensão social, é uma das principais preocupações. O tema foi levado para o centro do debate na Campanha da Fraternidade de 2010, cujo lema foi "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro".
Para o sociólogo Rudá Ricci, o desafio da igreja será atualizar o discurso. "Essa nova classe média não está à procura de reflexão teológica. Quer segurança e conforto", analisa. "Eles vinculam o sucesso como sinal de Deus. A igreja católica não faz essa relação", diz.
O sociólogo aponta que a eleição de dom Damasceno, com perfil conservador, está relacionada às mudanças sociais registradas no país. "Na igreja, os progressistas estão passando por uma crise, da mesma forma que movimentos como o MST vivem. Antes, os progressistas falavam para os miseráveis. Essa parcela se reduziu. A direita de igreja católica avançou na medida em que o PT se aproximou dos mais conservadores na política. Há um movimento em direção ao conservadorismo."
Além do perfil conservador, dom Damasceno é tido como conciliador e tem bom trânsito político. O religioso assumiu o mandato sinalizando uma reaproximação da igreja com o governo federal, depois da tensão das eleições de 2010.
O aborto e a união de casais do mesmo sexo ficaram no centro do debate da última campanha presidencial e parte da igreja posicionou-se contra o PT e Dilma Rousseff. Ao fazer um balanço dos primeiros meses da gestão federal, dom Damasceno elogiou a presidente. "Dilma não tomou nenhuma atitude que fosse contra a vida. O diálogo tem sido bom", diz. Durante a campanha eleitoral, o religioso defendeu abertamente que o aborto fosse tema de debate dos candidatos.
A tentativa de superar o mal-estar com o governo foi registrada em nota oficial, dentro do texto de uma moção de apoio à Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida - Contra o Aborto. "Reconhecemos o valor e os objetivos dos diversos projetos do governo a favor da vida no período da gestação e da primeira infância, desde que a criança seja respeitada a partir da fecundação", registraram os bispos, em referência ao Rede Cegonha. O programa, voltado a gestantes e recém-nascidos, foi lançado por Dilma no começo da gestão, em um aceno aos religiosos.
Além do aborto, a união civil homoafetiva também esteve na pauta da Assembleia-Geral da CNBB. Durante o encontro, o tema voltou a ter destaque nacional, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de estender a casais do mesmo sexo os direitos previstos na legislação aos casais heterossexuais. Dom Damasceno evitou falar sobre o assunto. Questionado, repetiu diversas vezes que a igreja se pronunciou em nota e que não falaria nada além do documento oficial. Anos antes, porém, o arcebispo de Aparecida engajou-se em campanha contra a votação no Congresso do projeto de lei 1.151/95, que garantia direitos de herança e previdência a casais do mesmo sexo. Então secretário-geral da CNBB, assinou um texto sobre o "perigo de uniões antinaturais" e do "risco" de o reconhecimento da união ser o primeiro passo para que homossexuais adotem crianças.
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